quarta-feira, 21 de julho de 2010

Um herói sem poderes e (quase) nenhuma responsabilidade



As adaptações de histórias em quadrinhos para o cinema continuam a fazer sucesso mundo afora. Mesmo quando elas não saem do jeito que muitos fãs esperam, essas produções arrastam muita gente para as salas de projeção e arrecadam muito dinheiro. Mas de vez em quando, algumas conseguem o inusitado, que é dobrar a crítica especializada para este tipo de filme, como Sin City - A Cidade do Pecado, Batman - O Cavaleiro das Trevas e, mais recentemente, Kick-Ass - Quebrando Tudo.

O filme, que foi feito de forma meio independente, e se baseou na história criada por Mark Millar (que não havia acabado de escrevê-la quando a produção começou) mostra Dave (o bom Aaron Johnson), um adolescente normal que compra uma roupa de mergulho pela internet e, com dois bastões e nenhum treinamento especial, decide combater o crime como o super-herói Kick-Ass. Na sua primeira tentativa, ele apanha à beça e acaba atropelado. No hospital, ganha várias placas metálicas e se sente imune à dor, o que o faz voltar às ruas. Ele se mete numa briga com três caras, para salvar uma pessoa, e se torna popular graças a vídeos na internet. Mas enquanto curte o sucesso inesperado, ele chama a atenção do principal chefão do crime (Mark Strong, que está como o vilão de vários outros filmes, como Robin Hood e outra adaptação de quadrinhos, Lanterna Verde) e de um dos seus desafetos, o justiceiro Big Daddy (Nicolas Cage, tão bom quanto em Vício Frenético).

O adolescente acaba cruzando com Big Daddy e sua arma mais mortífera, sua filha Hit Girl (Chloë Moretz). Aliás, ela é a responsável pelas cenas mais politicamente incorretas envolvendo crianças nos últimos anos. A menina (que não tinha mais de dez anos quando fez o filme) mata com requintes de crueldade, apanha que nem gente grande e fala um monte de palavrões sem medo ser feliz. Só ela já vale o filme inteiro e não deixa, literalmente, pedra sobre pedra. Mas Kick-Ass também conhece outro herói, o Red Mist (Christopher Mintz-Plasse, de Superbad), que no final tem um desagradável segredo.

O curioso em Kick-Ass é que, mesmo com a sua visão irônica e bastante violenta do mundo dos super-heróis, Millar e o diretor Matthew Vaughn (que vai dirigir X-Men - First Class) mostram uma história clássica, onde o herói passa por uma jornada e tem seus valores e sua visão ingênua modificada no final. Isso sem falar na relação entre Big Daddy e Hit Girl, que, mesmo com o inusitado das situações que os dois vivem, mostra um grande afeto entre pai e filha. Enfim, o filme diverte e prende o expectador na cadeira. Mesmo que ele nunca tenha lido uma história em quadrinhos na vida.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Batalha dos anos 80 volta e ainda diverte



Pois é, não resisti e volto a escrever sobre novelas, algo que não colocava aqui no blog há muito tempo. O motivo é a minha memória afetiva a uma trama que gostei muito quando era criança e agora voltou com uma nova roupagem: Ti-Ti-Ti, escrita originalmente por Cassiano Gabus Mendes nos anos 80 e adaptada por Maria Adelaide Amaral, que é mais conhecida pelas minisséries, como A Muralha, Um Só Coração e Os Maias.

Admito que, quando ouvi falar que a eterna briga entre Jacques LeClair / André Spina e Victor Valentin / Ariclenes Martins voltaria à televisão, não fui muito fã da ideia. Afinal, a novela foi muito marcante e quem a assistiu, há muitos anos atrás, ainda a tem na memória. Então, para que fazer tudo de novo? Mas a autora da nova versão decidiu fazer algumas mudanças nos personagens e juntou uma trama em outra, no caso, Plumas e Paetês, também de Cassiano Gabus Mendes. No primeiro capítulo, que foi exibido com apenas um intervalo comercial, deu para ver que a iniciativa pode "dar liga".

De uma maneira pouco vista em estreias de novelas, Ti-Ti-Ti não se preocupou em mostrar seus protagonistas logo nas primeiras cena. Os telespectadores foram apresentados, inicialmente, aos personagens que vão cercar Jacques (que nesta atualização, é bem mais brega, a começar pelo laço no pescoço e a forma afetada como fala, numa composição divertida de Alexandre Borges) e Victor (um Murilo Benício um pouco mais atrapalhado e casca grossa do que Luiz Gustavo, mas também engraçado). As tramas desses coadjuvantes também podem render bastante, como o caso do jovem Osmar (o galãzinho Gustavo Leão, num papel ousado para sua carreira que ainda está no início), que se afastou da família para se assumir gay e feliz ao lado de Julio (André Arteche), Mas ele sofrerá um grave acidente e morrerá, envolvendo a amiga Marcela (Isis Valverde, que continua atuando da mesma forma que em novelas anteriores) numa confusão por causa de sua gravidez.

Além disso, a novela também fez, em seu primeiro capítulo, uma irônica crítica ao culto à magreza no mundo da moda. Ao saber que teria que levar um grupo de modelos a um desfile de Jacques Leclair, Ariclenes decide levá-las para comer salgados gordurosos por horas, para que ficassem mais "cheinhas". No fim, ele as leva ao lugar marcado horas depois e se reencontra com seu eterno inimigo, ao som de uma música de filmes de faroeste, mostrando que a guerra está só começando.

Depois do fracasso que foi a tola e confusa Tempos Modernos, parece que a Globo pode recuperar sua audiência no horário das 19h, com o remake de Ti-Ti-Ti. Foi só o primeiro capítulo, é verdade, mas a impressão que ficou é de que a nova novela está com tudo para se consagrar entre o grande público. Agora, é aguardar os próximos capítulos.

sábado, 22 de maio de 2010

A lenda do Santo Beberrão



Depois de muitos anos sem uma adaptação de uma obra de Jorge Amado para o cinema (a última foi “Tieta do Agreste”, de Cacá Diegues, em 1996), o diretor Sérgio Machado lança o filme “Quincas Berro d’Água”. A produção, baseada no livro “A Morte e a Morte de Quincas Berro d’ Água”, tem Walter Salles como um dos produtores e conta com um elenco de peso, como Paulo José, Mariana Ximenes e Marieta Severo para conquistar o grande público.

A trama se desenvolve a partir do falecimento de Quincas (Paulo José, numa atuação muito inspirada), funcionário público que largou a família para se tornar um dos mais famosos beberrões de Salvador. Seus companheiros de farra decidem, então, roubar o corpo e dar a ele mais uma noite de diversão com a cafetina Manuela (Marieta Severo, sempre ótima), seu grande amor. Sua filha Vanda (Mariana Ximenes, um pouco diferente das mocinhas que interpreta na TV) e o genro Leonardo (Vladimir Brichta, vivendo mais uma vez um personagem bobo e ingênuo) vão ao submundo baiano para tentar desfazer a confusão. Acabam descobrindo que têm muito mais a ver com aquilo que eles rejeitam do que imaginam.

Realizador de “Cidade Baixa”, de 2005, Sérgio Machado volta a mostrar o universo da parte pobre de Salvador, amparado pelo texto de Jorge Amado. O diretor tem como mérito realizar boa parte do filme em locações pela capital baiana, mostrando as ruas sem aquela cara de cartão postal. A parte técnica do filme também merece destaque, especialmente numa das sequências finais, que acontece durante uma viagem de barco em plena tempestade. Um apuro que raramente se vê em produções nacionais.

No entanto, Machado não consegue fazer com que a história fique mais dinâmica. Em algumas partes, o filme se arrasta com algumas situações, como quando o grupo de amigos de Quincas tem que roubar uma galinha para fazer um despacho, que demora mais do que deveria. Além disso, há o desperdício de alguns atores, especialmente de Marieta Severo, que aparece muito pouco, apesar de sua boa interpretação. Outra coisa que não fica bem clara é a transformação de um cidadão respeitável num boêmio “pudim de cachaça”. A mudança se resume a poucas cenas, que são rápidas e não esclarecem muito.

Mas “Quincas Berro d’ Água” tem chances de ser um sucesso de bilheteria, porque tem piadas que caem bem no gosto popular e um protagonista que, como o próprio diz (em off) tem uma vida muito mais animada que muito vivo por aí. Outro destaque é o grupo de malandros formado por Pé de Vento (Luís Miranda), Cabo Martim (Irandhir Santos), Pastinha (Flávio Bauraqui) e Curió (Frank Menezes), que transformam a triste morte de uma pessoa querida numa grande festa. Resta saber se o público vai aceitar o convite.

sábado, 15 de maio de 2010

A Helena que não valeu a pena (Ou a mulher que ninguém amou)



Pois é, faz muito tempo que não escrevo sobre novelas. Mas não pude resistir após o fim daquela que foi uma das piores que a Globo apresentou nos últimos anos, no horário nobre (e olha que a Glória Perez não tem culpa no cartório desta vez). Viver a Vida trouxe de volta o escritor Manoel Carlos, após três anos. De uma coisa, posso dizer: ele se superou desta vez. O autor consguiu escrever uma novela pior que a sua antecessora, a nada memorável Páginas da Vida.

Com uma trama que não tinha nada de especial, a não ser, talvez a questão da superação, retratada na modelo Luciana (Alinne Moraes) que, depois de um grave acidente, fica tetraplégica, Viver a Vida não trouxe nenhuma novidade, nem figuras realmente marcantes. Além disso, Manoel Carlos criou personagens que não acrescentavam nada à história. Tanto que foram sacados da novela sem cerimônia, como a da bela Débora Nascimento, que só apareceu no início e depois, ninguém sabe, ninguém viu, embora seu nome aparecesse nos créditos da abertura todo o dia.

Além disso, foi notório que Manoel Carlos não escrevia muito em seus capítulos, pois muitos deles foram preenchidos com flashbacks longos e que foram repetidos várias vezes. Ou seja, o espectador não precisava se preocupar em perder algum capítulo. Mais adiante, ele poderia ver aquela cena que poderia causar dúvidas de continuidade. A direção morna e sem graça de Jayme Monjardim (que deve achar que isso é o seu "estilo", já mostrado em Páginas da Vida e no filme Olga) também não ajudou a criar maior simpatia pela novela.

Mas o maior pecado de Manoel Carlos em Viver a Vida foi, certamente, a Helena que ele escreveu para a novela. No início da trama, ela era uma modelo bem resolvida com sua vida, mesmo com um trauma no passado (no caso, um aborto para não prejudicar sua carreira). Mas, aos poucos, ela se transformou numa mulher sem força e energia para superar seus desafios, ao contrário das protagonistas anteriores. De heroína, Helena quase virou uma vilã, já que ela impediu que Luciana fosse num carro com ela durante uma viagem, que poderia tê-la evitado de sofrer o acidente. Passado o trauma, ela foi ficando cada vez mais sem voz ativa na trama, se tornando submissa ao marido machista e mulherengo, Marcos (José Mayer), e, ápice dos ápices, da mãe de Luciana, Teresa (Lília Cabral, excelente do início ao fim da novela).

A cena que melhor marca como Helena se transformou de protagonista para coadjuvante foi quando ela se encontrou com Teresa e pediu perdão de joelhos pela situação de Luciana após o acidente. A mãe aproveitou a imagem patética diante de seus olhos e tascou um tapa na cara da modelo. Quem olhasse aquilo com um pouco mais atenção, poderia achar que estava vendo Sinhá Moça, Escrava Isaura e outras novelas sobre escravidão, onde Helena era a escrava fujona, mas arrependida, que se submetia aos caprichos da senhora de engenho.

A partir daí, a situação de Helena não melhorou. Ela engravidou, não teve apoio do marido e logo em seguida perdeu a criança. Enquanto isso, a história de Luciana crescia cada vez mais, tomando de vez o posto de protagonista. O público, cada vez mais envolvido com a história da bela tetraplégica, nem deu bola para o sumiço de Helena. Quando ela aparecia, estava envolvida em situações fúteis, que nada acrescentavam à trama. Só quando ela flagrou Marcos com Dora (Giovanna Antonelli, que deveria ser a vilã, mas virou uma pobre coitada) que ela mostrou algum poder de reação, mas foi muito pouco.

No fim da novela, Manoel Carlos ainda escreveu uma cena ridícula, onde Helena, já com seu novo namorado (Thiago Lacerda) se levanta da cama e diz que sabe que está grávida, como se fosse a coisa mais fácil do mundo de se prever. Um desfecho totalmente banal para a personagem vivida por Taís Araújo, que já teve mais sorte com protagonistas, como em Da Cor do Pecado e até em Xica da Silva. A única coisa louvável do último capítulo foi o depoimento do maestro João Carlos Martins, sobre sua superação para voltar a trabalhar com a música, mesmo com problemas nas mãos. Mas não apagou a má impressão do desperdício que foi Viver a Vida, especialmente da sua Helena.

segunda-feira, 8 de março de 2010

A noite em que as mulheres foram mais duronas no Oscar



Pois é, mais uma vez cumpro o meu ritual e assisto, sem piscar os olhos, a cerimônia do Oscar. Acompanhei tudo pela TNT, pois achei um absurdo a Globo só exibir depois do BBB, quase à meia-noite desta segunda-feira, com um monte de prêmios já dados. Mas quase não consegui ver, porque a emissora a cabo teve vários problemas de transmissão. Mas vamos ao que interessa.

A cerimônia do Oscar deste ano teve muitas novidades, mas nenhuma delas foi de grande impacto ou causou melhoras em relação aos anos anteriores. Bom, talvez uma, se você não suportava números musicais das canções indicadas ao prêmio (alguns deles eram constrangedores mesmo). Aumentaram a duração das homenagens e, admito, uma delas me tocou em especial: a que foi feita para o diretor/roteirista John Hughes, que criou clássicos para a minha adolescência, como Curtindo a Vida Adoidado, A Garota de Rosa Shocking, ou mesmo Mulher Nota Mil (um dos meus prazeres proibidos, admito). Além desses, Hughes fez uma das melhores comédias de Steve Martin, Antes Só do Que Mal Acompanhado e escreveu os roteiros da série Esqueceram de Mim. Foi ótimo ver alguns dos atores revelados em seus filmes, como Molly Ringwald, Matthew Broderick, Jon Cryer, Judd Nelson e Macaulay Culkin, num tributo mais do que merecido. Já as outras homenagens não foram tão impactantes, como o especial sobre filmes de terror e o que lembrava os profissionais do cinema que faleceram ficou apenas interessante com a apresentação de James Taylor cantando In My Life.

Este ano, foram dois apresentadores, Steve Martin e Alec Baldwin. Embora se mostrassem em sintonia, algumas de suas piadas não funcionaram como esperado. Aliás, o que foi o George Clooney olhando de cara feia para o Baldwin? Perdi alguma coisa? Acho que vou mandar um e-mail para a academia pedindo o Ben Stiller ou mesmo a volta do Billy Cristal no ano que vem.

Falando no Ben Stiller, tenho que admitir que, mais uma vez, ele roubou a cena na hora de apresentar um prêmio, como foram nas edições anteriores. Totalmente maquiado como um dos personagens de Avatar, ele fez gracinhas com o James Cameron, que mostrou espírito esportivo, e ainda brincou com o fato da cauda de sua fantasia ser "controlada" por uma vara de pescar, ao dizer que o cinema evoluiu muito. Palmas para ele!

Quanto às premiações, não houve grandes surpresas e foi até tedioso em alguns momentos. Todos sabiam que Christoph Waltz e Mo'Nique iriam ganhar como Ator e Atriz Coadjuvantes em Bastardos Inglórios e Preciosa, assim como Up - Altas Aventuras levaria a estatueta de Melhor Aminação. As únicas coisas que pareceram fora de ordem foram o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, já que davam como certo que o vencedor seria o texto de Amor Sem Escalas e acabou indo para Preciosa, onde o roteirista, na hora de agradecer, admitiu ter dado um branco nele para lembrar todas as pessoas no seu discurso, devido à forte emoção. Outra surpresa foi O Segredo dos Seus Olhos, da Argentina, bater o franco favorito A Fita Branca, da Alemanha.

Também não foram surpreendentes as vitórias de Jeff Bridges e Sandra Bullock como Melhor Ator e Atriz, respectivamente. Os dois fizeram discursos longos, onde, aparentemente, não deixaram de lembrar ninguém. Aliás, nada como um dia após o outro, né Sandra? Após ter ganho o Framboesa de Ouro como Pior Atriz em All About Steve, deve ter sido ótimo para ela ter sido ovacionada pelo público por ganhar seu Oscar. Agora é ver se no próximo ano, a Mery Streep ganha, finalmente.

Finalmente, a batalha decisiva entre James Cameron e Kathryn Bigelow acabou com a vitória dela sobre o ex-marido. Mesmo com a desastrada ideia de um dos produtores de enviar e-mails para membros da Academia para prestigiar Guerra ao Terror em detrimento a Avatar, deu tudo certo para o filme de baixa produção, que foi ignorado até pelos distribuidores brasileiros (já está disponível em DVD). Ela (muito bonita, por sinal), como disse Barbra Streisand antes de anunciá-la como vencedora de Melhor Direção, fez história sendo a primeira mulher a ganhar nesta categoria. Sua produção ganhou o Oscar principal da noite, anunciado por um apressado Tom Hanks. Resta agora as pessoas descobrirem este filme. Quanto a Cameron, teve que se contentar com apenas três estatuetas: Fotografia, Efeitos Visuais e Direção de Arte. Desta vez, o Rei do Mundo ficou a ver navios.

Bom, assim foi o Oscar 2010. Agora é, mais uma vez, aguardar o que vem por aí para 2011.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Pipoca azul e em 3-D



Pois é, depois muuuuuuuuuito tentar, finalmente consegui ver o blockbuster bicho papão de bilheteria Avatar, com tudo a que tinha direito: exibição em 3-D, muita pipoca e refrigerante. Porque sabia que, para absorver toda a experiência que é a nova produção de James Cameron (que não filmava desde 1997, quando Titanic dominou o mundo - e os Oscars) tinha que ser desta maneira.

Mas vamos ao filme em si. Para quem achava que Cameron havia se enferrujado após anos praticamente desaparecido do mapa (ele só dirigiu alguns documentários sobre o fundo do mar e episódios da finada série de TV Dark Angel, sem contar uma hilária participação na série Entourage, onde apareceia como o diretor de um filme sobre Aquaman!!!), teve uma agradável surpresa. Em cada imagem de Avatar, é possível ver a marca de sua direção, mesmo nos momentos onde a computação gráfica impera, ao mostrar os segredos do planeta Pandora e a tribo dos Na'vi. Ele sabe, como poucos, fazer o expectador ficar preso à cadeira com suas ótimas cenas de ação, se emocionar nos momentos de maior tensão da trama e torcer para que os mocinhos vençam e os bandidos paguem por seus crimes. Aliás, Cameron também mostra como é bom diretor de atores, onde tem um grupo homogêneo como o novo astro Sam Worthington (O Exterminador do Futuro - A Salvação), a consagrada Sigourney Weaver (Alien) e o veterano, porém pouco lembrado Stephen Lang, e tira deles boas atuações, que tornam a produção ainda mais atraente.

Um destaque à parte vai para a atriz Zöe Saldana (a Uhura de Star Trek)), que ela vive Neytiri, uma membro dos Na'vi. Ela mostra uma expressão corporal impressionante e as emoções mostradas no seu rosto são tão cativantes que, depois de um tempo, você se esquece que está diante de um ser digital. Um exemplo está na cena da morte de um personagem importante para ela. Suas reações não transparecem em nenhum momento que a atriz está, na verdade, ligada a computadores para captar seus movimentos, tamanha é sua entrega na cena em questão. Além disso, a expressão de seus olhos, que sempre foram o calcanhar de Aquiles em produções anteriores, como O Expresso Polar, dessa vez se mostra muito mais eficiente, fazendo Neytiri mais sedutora.

Mas nem tudo é maravilhoso em Avatar. O principal problema do filme está em seu roteiro, muito clichê em alguns momentos. A trama lembra filmes como Dança com Lobos, O Último Samurai ou o hoje pouco lembrado Um Homem Chamado Cavalo, onde o protagonista muda seu modo de viver ao conviver com um grupo diferente do qual estava acostumado. A mensagem ecológica da produção também pode aborrecer às pessoas que acham o Greenpeace chato, por exemplo. Talvez por isso que, mesmo com a bilheteria astronômica que tem até agora, o filme não é uma unanimidade.

Isso, no entanto, não estraga o prazer ver uma obra com tantas coisas singulares quanto Avatar. O filme mostra novas formas de usar o 3-D (como a colocação das legendas, que ficam "flutuando" entre os personagens ou algum elemento de cena) e como se pensar novas produções com essa nova tecnologia. Já anunciaram até que o novo Homem Aranha será feito dessa maneira. Vamos ver no que vai dar.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A bad trip do tenente mau



Vou confessar duas coisas: ainda não consegui ver Avatar no cinema por questões de agenda e a minha insistência em assisti-lo apenas em 3D, já que a procura por ingressos para esse tipo de sessão está, realmente, complicada. A segunda, é sobre a versão original de Vício Frenético, feita nos anos 80 por Abel Ferrara e protagonizada por Harvey Keitel: também nunca a vi. Portanto, este texto sobre o mais recente filme de Werner Herzog não fará uma comparação entre o primeiro filme e o remake, combinado?

Assisti ao filme como plano B, após mais uma tentativa frustrada de ver o novo arrasa-quarteirão de James Cameron, já que uma parte de mim estava curiosa para ver se Nicolas Cage estava atuando tão bem quanto eu lia em vários sites, blogs e publicações. E realmente ele não decepcionou. Acostumado a fazer personagens alucinados, como em Despedida em Las Vegas (que lhe deu seu único Oscar até agora) o ator vai fundo para viver o tira Terence McDonagh que, após um mergulho mal dado para salvar um preso de se afogar numa cela inundada pelas águas após a passagem do furacão Katrina, em Nova Orleans, tem dores na coluna, o que o levam a consumir todo o tipo de droga. ' Todas com receita, exceto a heroína!', ele diz num certo momento da trama. A partir daí, por causa do seu vício, ele não se importa em abusar de seu poder para obter os narcóticos, nem que para isso tenha que se aliar a traficantes que possam estar ligados ao assassinato de toda uma família africana.

Um dos pontos positivos do filme está na maneira que Terence é mostrado. Se, ao mesmo tempo, ele aparece como um policial empenhado em fazer bem seu trabalho e elucidar o crime para o qual foi designado para investigar, assim como é carinhoso com seu pai e a madrasta e a namorada Frankie (Eva Mendes, que mais uma vez interpreta a latina gostosona), ele também é capaz de cometer as maiores atrocidades, como ameaçar de morte duas idosas (numa sequência tragicômica) em busca de informações. O roteiro tomou cuidado para deixar o protagonista mais tridimensional e não somente malvado.

Outra questão interessante é como Herzog mostra Nova Orleans no filme, sempre nublada e cinza, sem nenhum aspecto alegre e colorido, como se a cidade ainda não tivesse se recuperado do furacão que passou. O diretor também inova ao filmar os delírios causados pelas drogas em Terence. Com uma câmera operada por ele mesmo, Herzog mostra que o policial não consegue distinguir realidade da ficção, ao mostrar iguanas que só ele enxerga, deixando aqui o público intrigado com o que está assistindo.

Mas o filme tem algumas falhas que não dá para perdoar. Um exemplo disso é como alguns dos problemas de Terence são resolvidos numa única cena, de maneira bem rápida. Além disso, o personagem de Val Kilmer (que, gordo e com uma cara acabada, nem de longe lembra o ator que fez Top Gun, The Doors e Batman Eternamente) começa participando ativamente da investigação dos assassinatos, desaparece sem mais nem menos, e só volta na parte final da história, causando uma certa confusão.

Por fim, Vício Frenético não é um filme revolucionário (nem pretende ser). Mas tem um saldo mais positivo do que negativo ao acompanhar a jornada de um policial que tenta fazer as coisas direito, mas não consegue se livrar de sua dependência e fará de tudo (mas tudo mesmo) para mantê-la, numa ótima composição de Nicolas Cage. Reparem, por exemplo, como ele passa a andar de maneira torta à medida que o seu vício fica cada vez maior, como se mostrasse o monstro que quer sair de dentro dele e dominá-lo de vez.

P.S.: Não escreverei sobre o Globo de Ouro deste ano porque só assisti a parte da cermônia. Não seria justo.

P.S. 2: Ainda verei Avatar em 3D este mês. Questão de honra.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Lula, galã com cara de Brasil



Pois é, depois de um loooongo tempo hibernando (culpa minha, assumo), decidi cumprir uma das minhas promessas para 2010: reativar o Chubala's Blog. Então, pus a minha preguiça de lado e religuei os meus neurônios. Mas agora, vamos ao que interessa.

Filmes sobre presidentes são uma coisa perigosa no cinema: ou eles colocam a pessoa num pedestal ou criam situações inverossímeis. No primeiro caso, podemos colocar produções como Meu Querido Presidente, com Michael Douglas, ou Força Aérea Um, onde Harrison Ford detona terroristas que ameaçam a democracia e a paz mundial sem perder o estilo Indiana Jones, no segundo. Portanto, o que dizer de um filme que é lançado para mostrar a dura vida do chefe de Estado mais popular dos últimos anos no Brasil em pleno ano de eleições? Uma (in) feliz coincidência?

De qualquer forma, o post aqui não é sobre questões políticas ou posicionamentos partidários. É sobre a mais nova tentativa de se fazer um blockbuster no país. Lula, o Filho do Brasil foi produzido com todo o poder de fogo que poderia ser oferecido pelo casal Luiz Carlos e Lucy Barreto. Tecnincamente, o filme é impecável, com boa trilha sonora (ainda que apelativa) de Antônio Pinto e Jaques Morelenbaum, uma fotografia que alterna cores quentes com um granulado que parece ser de câmera digital e uma ótima recriação da época vivida pelos personagens. Mas no quesitos roteiro, direçao e emoção é que estão os principais problemas.

O filme gosta de enfatizar apenas as boas características de Luiz Inácio Lula da Silva, desde criança até assumir a liderança do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, em São Paulo. Mas omite toda e qualquer questão ideológica dele, como ele diz durante uma conversa com um militar que não é comunista nem nada, tornando uma pessoa apartidária, quando sabemos que é impossível não haver ligação entre grupos políticos quando se entra nessa vida. Talvez seja esse o problema de retratar alguém que ainda está vivo e no poder num filme biográfico. Não dá para mostrar as falhas que realmente aconteceram em sua trajetória.

Além disso, o roteiro não tira a sensação de que não estamos vendo uma história, mas sim episódios isolados da vida de Lula, que se conectam de forma irregular. Numa hora, vemos o protagonista ainda inocente ao entrar para o sindicalismo. Logo em seguida, ele já está como um líder para os seus companheiros, sem muita cerimônia. O mesmo vale para a parte romântica do filme. As personagens de Cleo Pires, que vive a primeira esposa de Lula, e Juliana Baroni, a segunda e atual Primeira-Dama, Marisa, surgem meio que do nada no filme, especialmente a de Cleo. Tudo bem que ela aparece ainda jovem na adolescência de Lula. Mas parece que ela foi jogada de qualquer jeito quando cresce. E quando ele conhece Marisa, ele já vai se declarando para ela sem ter nenhum clima para isso. Os dois, aliás, protagonizam a única cena cômica do filme, quando ele a chama para sair quando já havia outra pessoa esperando por ela.

Mas o principal problema de Lula, o Filho do Brasil está mesmo na direção de Fábio Barreto. Ele tem alguns acertos, como a recriação de um discurso de Lula num estádio lotado para metalúrgicos, quando ele, sem microfone, pede para que as pessoas passem para as outras as frases que ele conta. Aliás, é louvável a interpretação de Rui Ricardo Silva quando fala para o público, com o mesmo jeito que deixou Lula famoso. Mas Fábio Barreto tem um grave problema. Na tentativa de emocionar o público, ele o deixa muitas vezes sem sentir nada, apenas observando o que acontece na tela, sem causar reação.

Para piorar, Barreto termina o filme da mesma maneira que sua produção mais conhecida, O Quatrilho. Quando achamos que o filme vai começar a empolgar de verdade, ele termina, como se tivesse acabado sua verba (o que deve ter sido impossível). Aliás, o que salta aos olhos assim que a produção começa é o imenso número de empresas que a patrocinaram e ajudaram na sua realização.

O elenco, pelo menos, não deixa a peteca cair. Glória Pires, escalada para viver Dona Lindu, mãe de Lula, trabalha com a competência que a consgrou como uma das melhores atrizes da atualidade. Sua filha Cleo não compromete, assim como Juliana Baroni. O pai do protagonista, vivido por Milhem Cortaz, causa revolta e asco graças ao bom trabalho do ator. Por fim, Rui Ricardo Silva, embora seja mais alto e atlético do que Lula, mostra que se dedicou bastante para não fazer feio como seu primeiro protagonista no cinema.

Enfim, Lula, o Filho do Brasil pode até fazer sucesso no cinema (embora acho pouco provável que derrote filmes como Avatar). Mas como filme, é pouco memorável, sendo esquecido rapidamente quando as luzes se acendem.