sábado, 22 de maio de 2010

A lenda do Santo Beberrão



Depois de muitos anos sem uma adaptação de uma obra de Jorge Amado para o cinema (a última foi “Tieta do Agreste”, de Cacá Diegues, em 1996), o diretor Sérgio Machado lança o filme “Quincas Berro d’Água”. A produção, baseada no livro “A Morte e a Morte de Quincas Berro d’ Água”, tem Walter Salles como um dos produtores e conta com um elenco de peso, como Paulo José, Mariana Ximenes e Marieta Severo para conquistar o grande público.

A trama se desenvolve a partir do falecimento de Quincas (Paulo José, numa atuação muito inspirada), funcionário público que largou a família para se tornar um dos mais famosos beberrões de Salvador. Seus companheiros de farra decidem, então, roubar o corpo e dar a ele mais uma noite de diversão com a cafetina Manuela (Marieta Severo, sempre ótima), seu grande amor. Sua filha Vanda (Mariana Ximenes, um pouco diferente das mocinhas que interpreta na TV) e o genro Leonardo (Vladimir Brichta, vivendo mais uma vez um personagem bobo e ingênuo) vão ao submundo baiano para tentar desfazer a confusão. Acabam descobrindo que têm muito mais a ver com aquilo que eles rejeitam do que imaginam.

Realizador de “Cidade Baixa”, de 2005, Sérgio Machado volta a mostrar o universo da parte pobre de Salvador, amparado pelo texto de Jorge Amado. O diretor tem como mérito realizar boa parte do filme em locações pela capital baiana, mostrando as ruas sem aquela cara de cartão postal. A parte técnica do filme também merece destaque, especialmente numa das sequências finais, que acontece durante uma viagem de barco em plena tempestade. Um apuro que raramente se vê em produções nacionais.

No entanto, Machado não consegue fazer com que a história fique mais dinâmica. Em algumas partes, o filme se arrasta com algumas situações, como quando o grupo de amigos de Quincas tem que roubar uma galinha para fazer um despacho, que demora mais do que deveria. Além disso, há o desperdício de alguns atores, especialmente de Marieta Severo, que aparece muito pouco, apesar de sua boa interpretação. Outra coisa que não fica bem clara é a transformação de um cidadão respeitável num boêmio “pudim de cachaça”. A mudança se resume a poucas cenas, que são rápidas e não esclarecem muito.

Mas “Quincas Berro d’ Água” tem chances de ser um sucesso de bilheteria, porque tem piadas que caem bem no gosto popular e um protagonista que, como o próprio diz (em off) tem uma vida muito mais animada que muito vivo por aí. Outro destaque é o grupo de malandros formado por Pé de Vento (Luís Miranda), Cabo Martim (Irandhir Santos), Pastinha (Flávio Bauraqui) e Curió (Frank Menezes), que transformam a triste morte de uma pessoa querida numa grande festa. Resta saber se o público vai aceitar o convite.

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