segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A bad trip do tenente mau



Vou confessar duas coisas: ainda não consegui ver Avatar no cinema por questões de agenda e a minha insistência em assisti-lo apenas em 3D, já que a procura por ingressos para esse tipo de sessão está, realmente, complicada. A segunda, é sobre a versão original de Vício Frenético, feita nos anos 80 por Abel Ferrara e protagonizada por Harvey Keitel: também nunca a vi. Portanto, este texto sobre o mais recente filme de Werner Herzog não fará uma comparação entre o primeiro filme e o remake, combinado?

Assisti ao filme como plano B, após mais uma tentativa frustrada de ver o novo arrasa-quarteirão de James Cameron, já que uma parte de mim estava curiosa para ver se Nicolas Cage estava atuando tão bem quanto eu lia em vários sites, blogs e publicações. E realmente ele não decepcionou. Acostumado a fazer personagens alucinados, como em Despedida em Las Vegas (que lhe deu seu único Oscar até agora) o ator vai fundo para viver o tira Terence McDonagh que, após um mergulho mal dado para salvar um preso de se afogar numa cela inundada pelas águas após a passagem do furacão Katrina, em Nova Orleans, tem dores na coluna, o que o levam a consumir todo o tipo de droga. ' Todas com receita, exceto a heroína!', ele diz num certo momento da trama. A partir daí, por causa do seu vício, ele não se importa em abusar de seu poder para obter os narcóticos, nem que para isso tenha que se aliar a traficantes que possam estar ligados ao assassinato de toda uma família africana.

Um dos pontos positivos do filme está na maneira que Terence é mostrado. Se, ao mesmo tempo, ele aparece como um policial empenhado em fazer bem seu trabalho e elucidar o crime para o qual foi designado para investigar, assim como é carinhoso com seu pai e a madrasta e a namorada Frankie (Eva Mendes, que mais uma vez interpreta a latina gostosona), ele também é capaz de cometer as maiores atrocidades, como ameaçar de morte duas idosas (numa sequência tragicômica) em busca de informações. O roteiro tomou cuidado para deixar o protagonista mais tridimensional e não somente malvado.

Outra questão interessante é como Herzog mostra Nova Orleans no filme, sempre nublada e cinza, sem nenhum aspecto alegre e colorido, como se a cidade ainda não tivesse se recuperado do furacão que passou. O diretor também inova ao filmar os delírios causados pelas drogas em Terence. Com uma câmera operada por ele mesmo, Herzog mostra que o policial não consegue distinguir realidade da ficção, ao mostrar iguanas que só ele enxerga, deixando aqui o público intrigado com o que está assistindo.

Mas o filme tem algumas falhas que não dá para perdoar. Um exemplo disso é como alguns dos problemas de Terence são resolvidos numa única cena, de maneira bem rápida. Além disso, o personagem de Val Kilmer (que, gordo e com uma cara acabada, nem de longe lembra o ator que fez Top Gun, The Doors e Batman Eternamente) começa participando ativamente da investigação dos assassinatos, desaparece sem mais nem menos, e só volta na parte final da história, causando uma certa confusão.

Por fim, Vício Frenético não é um filme revolucionário (nem pretende ser). Mas tem um saldo mais positivo do que negativo ao acompanhar a jornada de um policial que tenta fazer as coisas direito, mas não consegue se livrar de sua dependência e fará de tudo (mas tudo mesmo) para mantê-la, numa ótima composição de Nicolas Cage. Reparem, por exemplo, como ele passa a andar de maneira torta à medida que o seu vício fica cada vez maior, como se mostrasse o monstro que quer sair de dentro dele e dominá-lo de vez.

P.S.: Não escreverei sobre o Globo de Ouro deste ano porque só assisti a parte da cermônia. Não seria justo.

P.S. 2: Ainda verei Avatar em 3D este mês. Questão de honra.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Lula, galã com cara de Brasil



Pois é, depois de um loooongo tempo hibernando (culpa minha, assumo), decidi cumprir uma das minhas promessas para 2010: reativar o Chubala's Blog. Então, pus a minha preguiça de lado e religuei os meus neurônios. Mas agora, vamos ao que interessa.

Filmes sobre presidentes são uma coisa perigosa no cinema: ou eles colocam a pessoa num pedestal ou criam situações inverossímeis. No primeiro caso, podemos colocar produções como Meu Querido Presidente, com Michael Douglas, ou Força Aérea Um, onde Harrison Ford detona terroristas que ameaçam a democracia e a paz mundial sem perder o estilo Indiana Jones, no segundo. Portanto, o que dizer de um filme que é lançado para mostrar a dura vida do chefe de Estado mais popular dos últimos anos no Brasil em pleno ano de eleições? Uma (in) feliz coincidência?

De qualquer forma, o post aqui não é sobre questões políticas ou posicionamentos partidários. É sobre a mais nova tentativa de se fazer um blockbuster no país. Lula, o Filho do Brasil foi produzido com todo o poder de fogo que poderia ser oferecido pelo casal Luiz Carlos e Lucy Barreto. Tecnincamente, o filme é impecável, com boa trilha sonora (ainda que apelativa) de Antônio Pinto e Jaques Morelenbaum, uma fotografia que alterna cores quentes com um granulado que parece ser de câmera digital e uma ótima recriação da época vivida pelos personagens. Mas no quesitos roteiro, direçao e emoção é que estão os principais problemas.

O filme gosta de enfatizar apenas as boas características de Luiz Inácio Lula da Silva, desde criança até assumir a liderança do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, em São Paulo. Mas omite toda e qualquer questão ideológica dele, como ele diz durante uma conversa com um militar que não é comunista nem nada, tornando uma pessoa apartidária, quando sabemos que é impossível não haver ligação entre grupos políticos quando se entra nessa vida. Talvez seja esse o problema de retratar alguém que ainda está vivo e no poder num filme biográfico. Não dá para mostrar as falhas que realmente aconteceram em sua trajetória.

Além disso, o roteiro não tira a sensação de que não estamos vendo uma história, mas sim episódios isolados da vida de Lula, que se conectam de forma irregular. Numa hora, vemos o protagonista ainda inocente ao entrar para o sindicalismo. Logo em seguida, ele já está como um líder para os seus companheiros, sem muita cerimônia. O mesmo vale para a parte romântica do filme. As personagens de Cleo Pires, que vive a primeira esposa de Lula, e Juliana Baroni, a segunda e atual Primeira-Dama, Marisa, surgem meio que do nada no filme, especialmente a de Cleo. Tudo bem que ela aparece ainda jovem na adolescência de Lula. Mas parece que ela foi jogada de qualquer jeito quando cresce. E quando ele conhece Marisa, ele já vai se declarando para ela sem ter nenhum clima para isso. Os dois, aliás, protagonizam a única cena cômica do filme, quando ele a chama para sair quando já havia outra pessoa esperando por ela.

Mas o principal problema de Lula, o Filho do Brasil está mesmo na direção de Fábio Barreto. Ele tem alguns acertos, como a recriação de um discurso de Lula num estádio lotado para metalúrgicos, quando ele, sem microfone, pede para que as pessoas passem para as outras as frases que ele conta. Aliás, é louvável a interpretação de Rui Ricardo Silva quando fala para o público, com o mesmo jeito que deixou Lula famoso. Mas Fábio Barreto tem um grave problema. Na tentativa de emocionar o público, ele o deixa muitas vezes sem sentir nada, apenas observando o que acontece na tela, sem causar reação.

Para piorar, Barreto termina o filme da mesma maneira que sua produção mais conhecida, O Quatrilho. Quando achamos que o filme vai começar a empolgar de verdade, ele termina, como se tivesse acabado sua verba (o que deve ter sido impossível). Aliás, o que salta aos olhos assim que a produção começa é o imenso número de empresas que a patrocinaram e ajudaram na sua realização.

O elenco, pelo menos, não deixa a peteca cair. Glória Pires, escalada para viver Dona Lindu, mãe de Lula, trabalha com a competência que a consgrou como uma das melhores atrizes da atualidade. Sua filha Cleo não compromete, assim como Juliana Baroni. O pai do protagonista, vivido por Milhem Cortaz, causa revolta e asco graças ao bom trabalho do ator. Por fim, Rui Ricardo Silva, embora seja mais alto e atlético do que Lula, mostra que se dedicou bastante para não fazer feio como seu primeiro protagonista no cinema.

Enfim, Lula, o Filho do Brasil pode até fazer sucesso no cinema (embora acho pouco provável que derrote filmes como Avatar). Mas como filme, é pouco memorável, sendo esquecido rapidamente quando as luzes se acendem.