quinta-feira, 19 de junho de 2008

Nem barro nem tijolo

O futebol é mesmo uma grande paixão para os brasileiros. Sei que essa frase pode parecer clichê, mas é fato de que a grande maioria dos brazucas se emociona, vibra, chora, xinga, reclama e gosta de ver esse esporte bretão todas as vezes que puder. Por isso, é óbvio que, quando ocorre uma partida em que houve uma grande expectativa e ela é frustrada, a torcida em massa fica indignada. E isso se torna ainda pior quando a seleção brasileira joga mal durante as eliminatórias da Copa, como foi no jogo de ontem, contra a Argentina no Mineirão.

O time comandado por Dunga vem de péssimos resultados, seja na competição ou em amistosos. O pior deles foi, com certeza, a primeira derrota sofrida pela Venezuela na história em jogo nos EUA. Acredito que a coisa mais incômoda nesta seleção é de que o futebol apresentado por ela é burocrático demais, com excesso de toques para o lado, sem nenhuma objetividade. E isso não é de hoje, apenas ficou mais evidenciado nas últimas partidas. O Brasil se acostumou com um futebol ofensivo, combativo, com raça. Mas não é isso que tem surgido nos jogos mais recentes. E, com certeza, não foi isso que foi visto no empate sem gols e sem graça com a Argentina.

O pré-jogo, aliás, merece algumas observações. Ao começar a transmissão da partida pela TV, vimos imagens de uma verdadeira festa no gramado, com homenagens ao Pelé (não que ele não mereça), show do Jota Quest (e mais tarde do Skank, que disseram que agitou mais a galera do que os jogadores), acenos do governador Aécio Neves para os torcedores, entre outras coisas que mais parecia a final do Superbowl nos EUA . Ao ver aquilo, logo veio a minha mente a comemoração antecipada do Flamengo antes do jogo contra o América-Mex pela Libertadores 2008. Bandinha tocando, faixas comemorativas, homenagens ao técnico Joel Santana (que iria deixar o clube para comandar a África do Sul), mas na hora de jogar, o rubro-negro decepcionou e foi eliminado de forma vergonhosa da competição. Ou seja, da próxima vez que vir muitas luzes e festas antes do jogo, vou desconfiar seriamente do futebol que será apresentado.

Assim como na derrota do Flamengo, a seleção brasileira não mostrou nenhum brilho durante toda a partida. Alguns disseram que o Brasil estava atuando mais como time grande, ao contrário da derrota para o Paraguia no último domingo. Mas a verdade é que a atual seleção brasileira não é um time de verdade, apenas um bando de jogadores que se reunem de vez em quando para ver no que vai dar na hora. Não há uma jogada ensaiada, não há qualidade nos passes e mesmo os talentos individuais não resolveram nada, como Romário ou mesmo Ronaldo nos bons tempos. O que dizer do lance em que Robinho, ao invés de tentar passar para outros jogadores ao avançar pela pequena área, resolveu driblar todo mundo até se ver cercado por um monte de argentinos?

Enfim, a seleção brasileira continua devendo nas eliminatórias da Copa, está num incômodo quarto lugar (que pode perder, dependendo de futuros resultados) e não mostra reais sinais de recuperação. O técnico Dunga teve sua cabeça pedida por torcedores no Mineirão e, provavelmente, por muitos telespectadores. Mas será que mudando o treinador, o time entra nos eixos? Difícil prever isso. Mas acho que a atitude que tanto os jogadores diseeram ter tido ontem ainda não apareceu e não se converteu em gols. A situação é (de forma politicamente correta) preta e não verde-amarela.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Ele (ainda) é o cara

Pois é, depois de um looooongo tempo sem postar nada, eis que retorno ao meu querido blog! Andei meio preguiçoso em escrever (horrível admitir isso, né?). Mas agora devo voltar ao meu ritmo normal e não deixar passar muito tempo em fazer novos textos por aqui.

Mas chega de lamentações e vamos ao que interessa. Assim como demorei a escrever de novo, demorei a ir ao cinema nos últimos meses. Porém, no último fim de semana, finalmente matei as saudades do telão, que para mim nunca é superado nem por VHS, DVD, internet e o que mais vier por aí. E, assim, como me reencontrei com o cinema, revi um dos meus heróis da adolescência, que estava sumido há quase duas décadas: o dr. Henry Jones Jr., mais conhecido como Indiana Jones!

Quando ouvi falar que o arqueólogo mais famoso do cinema iria voltar, admito que fiquei um pouco temeroso. Afinal, o terceiro filme da série, Indiana Jones e a Última Cruzada, havia mostrado um belo desfecho de suas aventuras, além de ter uma ótima cena final, com Jones, seu pai (numa ótima interpretação de Sean Connery) e seus dois amigos Marcus e Sallah (os excelentes Denhlom Elliot e John Rhys-Davies) cavalgando em direção ao sol. Então, para quê continuar depois disso? Bem, uma boa alternativa foi descoberta: a de que os heróis também envelhecem, assim como nós pobres mortais.

Depois de muitas indas e vindas, o diretor Steven Spielberg e o produtor George Lucas decidiram que Indiana Jones devia avançar em seu tempo (no caso, ter uma nova aventura no fim da década de 50). Logo, o arqueólogo tem que enfrentar não mais os nazistas, mas os russos, e algo mais fatal do que qualquer força oculta: o tempo. Assim, quando Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (título meio de filme da Xuxa, não acham?) começa, Spielberg fez questão de mostrar o herói com as rugas e o cabelo grisalho, que contrastam com a juventude dos soldados russos e de sua líder, Irina Spalko (vivida pela sempre ótima Cate Blanchett). Mas Indy logo vira o jogo ao seu favor e mostra um vigor impressionante para alguém com a sua idade (talvez algum efeito colateral de ter bebido água no Santo Graal?). É claro que Harrison ford, hoje com 66 anos, não faz todas as cenas de ação e é substituído por dublês. Mas quem se importa? A edição do filme é tão bem feita que ninguém nota a diferença e torce para que o personagem se dê bem em todas as confusões em que se mete, desde o começo até o fim do filme.

Outro acerto do filme é trazer de volta a primeira mocinha da série: Karen Allen, assim como Harrison Ford, envelheceu dignamente e, como o próprio herói diz num momento da história, houve outras mulheres, mas nenhuma como Marion Ravenwood. Quando ela sorri ao dizer isso, não tem como não concordar com Indy. Além disso, Spielberg fez uma boa aposta em Shia LaBeouf como Mutt Williams, o jovem rebelde filho de Marion que acaba se tornando o parceiro perfeito do dr. Jones.

Mas o filme não é perfeito, infelizmente. A trama envolvendo a caveira de cristal e seus misteriosos poderes não é muito bem desenvolvida e muitos elementos ficam mal explicados. Um exemplo disso é quando Spalko decide usar a caveira para controlar Indiana Jones, a ação não surte o efeito esperado e não é mais mencionada no desenrolar da trama. Além disso, os enigmas que Indy tem que desvendar são confusos e não são tão envolventes quanto nos filmes anteriores. Outro problema está em dois personagens mal-resolvidos, o parceiro suspeito "Mac" George McHale, vivido pelo "Beowulf" Ray Winstone e o professor Oxley, interpretado por John Hurt e inserido na trama para substituir Sean Connery, que não quis voltar a ser Henry Jones. Enquanto "Mac" não mostra grande função na trama, a não ser na primeira parte do filme, Oxley não acrescenta muita coisa, repetindo frases sem sentido e que não despertam nenhuma curiosidade. Aliás, é curioso notar que, se Indiana Jones inspirou outros filmes de ação, Spielberg se inspirou em uma de suas cópias para fazer uma seqüência: o ataque das formigas assassinas lembra muito a cena dos escaravelhos digitais de "A Múmia", dirigido por Stephen Sommers. Além disso, ficou estranha a relação de Indy com os russos. Em alguns momentos, ele se recusa veementemente a ajudá-los. Mas em outros, ele esclarece algumas das charadas de Oxley a Spalko sem demonstrar nenhuma contrariedade. A seqüência final, aliás, soa meio déja vu pois lembra muito o final de A Última Cruzada.

Mas Spielberg mostra que ainda sabe o que faz. As cenas de perseguição de moto nos EUA e a dos jipes na Amazônia são incríveis, embora nesta última é uma pena Indiana Jones dar espaço demais para o jovem Mutt brigar com os russos e, em especial com Spalko. Aliás, um parêntese. Em Cannes, a atriz Cate Blanchett pediu desculpas ao povo russo por sua interpretação. Não precisava, pois se ela não fez uma grande performance, em nenhum momento ela sujou o seu belo currículo com sua atuação. O problema talvez esteja nos clichês americanos que são criados para personagens estrangeiros. Isso vale também para a questão da pirâmide encontrada no Amazonas, que é mostrada no filme.

Enfim, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal pode não ser o super filme que muitos esperavam, mas está longe de criar grandes decepções nos espectadores. A produção mostra que ainda é possível fazer filmes agradáveis e despretensiosos quando se tem unidos um bom diretor, uma história interessante (que poderia ser melhor nesse caso), seqüências alucinantes e um ótimo protagonista. Aliás, Harrison Ford mostra que o tempo não pára, mas também pode não condenar. E, como fica mostrada na última cena, ele ainda é o cara. Que venham mais aventuras com Indy, então!