sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Lula, galã com cara de Brasil



Pois é, depois de um loooongo tempo hibernando (culpa minha, assumo), decidi cumprir uma das minhas promessas para 2010: reativar o Chubala's Blog. Então, pus a minha preguiça de lado e religuei os meus neurônios. Mas agora, vamos ao que interessa.

Filmes sobre presidentes são uma coisa perigosa no cinema: ou eles colocam a pessoa num pedestal ou criam situações inverossímeis. No primeiro caso, podemos colocar produções como Meu Querido Presidente, com Michael Douglas, ou Força Aérea Um, onde Harrison Ford detona terroristas que ameaçam a democracia e a paz mundial sem perder o estilo Indiana Jones, no segundo. Portanto, o que dizer de um filme que é lançado para mostrar a dura vida do chefe de Estado mais popular dos últimos anos no Brasil em pleno ano de eleições? Uma (in) feliz coincidência?

De qualquer forma, o post aqui não é sobre questões políticas ou posicionamentos partidários. É sobre a mais nova tentativa de se fazer um blockbuster no país. Lula, o Filho do Brasil foi produzido com todo o poder de fogo que poderia ser oferecido pelo casal Luiz Carlos e Lucy Barreto. Tecnincamente, o filme é impecável, com boa trilha sonora (ainda que apelativa) de Antônio Pinto e Jaques Morelenbaum, uma fotografia que alterna cores quentes com um granulado que parece ser de câmera digital e uma ótima recriação da época vivida pelos personagens. Mas no quesitos roteiro, direçao e emoção é que estão os principais problemas.

O filme gosta de enfatizar apenas as boas características de Luiz Inácio Lula da Silva, desde criança até assumir a liderança do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, em São Paulo. Mas omite toda e qualquer questão ideológica dele, como ele diz durante uma conversa com um militar que não é comunista nem nada, tornando uma pessoa apartidária, quando sabemos que é impossível não haver ligação entre grupos políticos quando se entra nessa vida. Talvez seja esse o problema de retratar alguém que ainda está vivo e no poder num filme biográfico. Não dá para mostrar as falhas que realmente aconteceram em sua trajetória.

Além disso, o roteiro não tira a sensação de que não estamos vendo uma história, mas sim episódios isolados da vida de Lula, que se conectam de forma irregular. Numa hora, vemos o protagonista ainda inocente ao entrar para o sindicalismo. Logo em seguida, ele já está como um líder para os seus companheiros, sem muita cerimônia. O mesmo vale para a parte romântica do filme. As personagens de Cleo Pires, que vive a primeira esposa de Lula, e Juliana Baroni, a segunda e atual Primeira-Dama, Marisa, surgem meio que do nada no filme, especialmente a de Cleo. Tudo bem que ela aparece ainda jovem na adolescência de Lula. Mas parece que ela foi jogada de qualquer jeito quando cresce. E quando ele conhece Marisa, ele já vai se declarando para ela sem ter nenhum clima para isso. Os dois, aliás, protagonizam a única cena cômica do filme, quando ele a chama para sair quando já havia outra pessoa esperando por ela.

Mas o principal problema de Lula, o Filho do Brasil está mesmo na direção de Fábio Barreto. Ele tem alguns acertos, como a recriação de um discurso de Lula num estádio lotado para metalúrgicos, quando ele, sem microfone, pede para que as pessoas passem para as outras as frases que ele conta. Aliás, é louvável a interpretação de Rui Ricardo Silva quando fala para o público, com o mesmo jeito que deixou Lula famoso. Mas Fábio Barreto tem um grave problema. Na tentativa de emocionar o público, ele o deixa muitas vezes sem sentir nada, apenas observando o que acontece na tela, sem causar reação.

Para piorar, Barreto termina o filme da mesma maneira que sua produção mais conhecida, O Quatrilho. Quando achamos que o filme vai começar a empolgar de verdade, ele termina, como se tivesse acabado sua verba (o que deve ter sido impossível). Aliás, o que salta aos olhos assim que a produção começa é o imenso número de empresas que a patrocinaram e ajudaram na sua realização.

O elenco, pelo menos, não deixa a peteca cair. Glória Pires, escalada para viver Dona Lindu, mãe de Lula, trabalha com a competência que a consgrou como uma das melhores atrizes da atualidade. Sua filha Cleo não compromete, assim como Juliana Baroni. O pai do protagonista, vivido por Milhem Cortaz, causa revolta e asco graças ao bom trabalho do ator. Por fim, Rui Ricardo Silva, embora seja mais alto e atlético do que Lula, mostra que se dedicou bastante para não fazer feio como seu primeiro protagonista no cinema.

Enfim, Lula, o Filho do Brasil pode até fazer sucesso no cinema (embora acho pouco provável que derrote filmes como Avatar). Mas como filme, é pouco memorável, sendo esquecido rapidamente quando as luzes se acendem.

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