sábado, 15 de maio de 2010

A Helena que não valeu a pena (Ou a mulher que ninguém amou)



Pois é, faz muito tempo que não escrevo sobre novelas. Mas não pude resistir após o fim daquela que foi uma das piores que a Globo apresentou nos últimos anos, no horário nobre (e olha que a Glória Perez não tem culpa no cartório desta vez). Viver a Vida trouxe de volta o escritor Manoel Carlos, após três anos. De uma coisa, posso dizer: ele se superou desta vez. O autor consguiu escrever uma novela pior que a sua antecessora, a nada memorável Páginas da Vida.

Com uma trama que não tinha nada de especial, a não ser, talvez a questão da superação, retratada na modelo Luciana (Alinne Moraes) que, depois de um grave acidente, fica tetraplégica, Viver a Vida não trouxe nenhuma novidade, nem figuras realmente marcantes. Além disso, Manoel Carlos criou personagens que não acrescentavam nada à história. Tanto que foram sacados da novela sem cerimônia, como a da bela Débora Nascimento, que só apareceu no início e depois, ninguém sabe, ninguém viu, embora seu nome aparecesse nos créditos da abertura todo o dia.

Além disso, foi notório que Manoel Carlos não escrevia muito em seus capítulos, pois muitos deles foram preenchidos com flashbacks longos e que foram repetidos várias vezes. Ou seja, o espectador não precisava se preocupar em perder algum capítulo. Mais adiante, ele poderia ver aquela cena que poderia causar dúvidas de continuidade. A direção morna e sem graça de Jayme Monjardim (que deve achar que isso é o seu "estilo", já mostrado em Páginas da Vida e no filme Olga) também não ajudou a criar maior simpatia pela novela.

Mas o maior pecado de Manoel Carlos em Viver a Vida foi, certamente, a Helena que ele escreveu para a novela. No início da trama, ela era uma modelo bem resolvida com sua vida, mesmo com um trauma no passado (no caso, um aborto para não prejudicar sua carreira). Mas, aos poucos, ela se transformou numa mulher sem força e energia para superar seus desafios, ao contrário das protagonistas anteriores. De heroína, Helena quase virou uma vilã, já que ela impediu que Luciana fosse num carro com ela durante uma viagem, que poderia tê-la evitado de sofrer o acidente. Passado o trauma, ela foi ficando cada vez mais sem voz ativa na trama, se tornando submissa ao marido machista e mulherengo, Marcos (José Mayer), e, ápice dos ápices, da mãe de Luciana, Teresa (Lília Cabral, excelente do início ao fim da novela).

A cena que melhor marca como Helena se transformou de protagonista para coadjuvante foi quando ela se encontrou com Teresa e pediu perdão de joelhos pela situação de Luciana após o acidente. A mãe aproveitou a imagem patética diante de seus olhos e tascou um tapa na cara da modelo. Quem olhasse aquilo com um pouco mais atenção, poderia achar que estava vendo Sinhá Moça, Escrava Isaura e outras novelas sobre escravidão, onde Helena era a escrava fujona, mas arrependida, que se submetia aos caprichos da senhora de engenho.

A partir daí, a situação de Helena não melhorou. Ela engravidou, não teve apoio do marido e logo em seguida perdeu a criança. Enquanto isso, a história de Luciana crescia cada vez mais, tomando de vez o posto de protagonista. O público, cada vez mais envolvido com a história da bela tetraplégica, nem deu bola para o sumiço de Helena. Quando ela aparecia, estava envolvida em situações fúteis, que nada acrescentavam à trama. Só quando ela flagrou Marcos com Dora (Giovanna Antonelli, que deveria ser a vilã, mas virou uma pobre coitada) que ela mostrou algum poder de reação, mas foi muito pouco.

No fim da novela, Manoel Carlos ainda escreveu uma cena ridícula, onde Helena, já com seu novo namorado (Thiago Lacerda) se levanta da cama e diz que sabe que está grávida, como se fosse a coisa mais fácil do mundo de se prever. Um desfecho totalmente banal para a personagem vivida por Taís Araújo, que já teve mais sorte com protagonistas, como em Da Cor do Pecado e até em Xica da Silva. A única coisa louvável do último capítulo foi o depoimento do maestro João Carlos Martins, sobre sua superação para voltar a trabalhar com a música, mesmo com problemas nas mãos. Mas não apagou a má impressão do desperdício que foi Viver a Vida, especialmente da sua Helena.

Um comentário:

Madame Blanche disse...

Definitivamente, Viver a Vida valeu pela interpretação de Lília Cabral. E ponto final. Que venha Passione.

Beijo