quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Revelações folhetinescas

Quando A Favorita começou, o grande mistério da trama não era, segundo o autor João Emanoel Carneiro, quem matou, mas sim quem estava mentindo. Só por ter essa concepção, a novela já tinha me conquistado. Mas para a minha surpresa, outros elementos também se mostraram satisfatórios e além da expectativa. Mas convenhamos, fazer pior que Aguinaldo Silva em Duas Caras, só adaptando Os Mutantes da Record para a Globo.

Para mexer um pouco na estrtura dos folhetins (e, provavelmente, aumentar a audiência que ainda não é lá essas coisas), o escritor decidiu mostrar que Flora (Patrícia Pillar) era a verdadeira assassina antes da trama terminar. Para alguns, a escolha foi frustrante porque houve maior simpatia por ela do que por Donatela, até porque Cláudia Raia era mais escaldada em fazer vilãs, embora nunca conseguisse bons resultados como em Torre de Babel e em Sete Pecados. Para outros, antecipar o mistério não faria a trama realmente "andar", algo que discordo totalmente.

Ao assisitir o capítulo onde foi revelada a verdade sobre o assassinato de Marcelo (aliás, não dava para ele ser vivido por um ator melhor, não?), parecia que eu estava assitindo a uma nova versão de Morangos Silvestres, de Ingmar Bergman. Explico: assim como no filme, onde o protagonista revê seu passado, mas com a mesma aparência dos dias atuais, Flora e Donatela surgem como são atualmente, numa cena que, se não foi perfeita, pelo menos foi bem impactante e as duas atrizes deram conta do recado, especialmente a Patrícia Pillar. E o clima foi mesmo de último capítulo.

Além disso, o recurso de mostrar o criminoso antes do fim não é novo. Alfred Hitchcock utilizou essa possibilidade em Frenezi, filme pouco conhecido que marcou sua volta ao cinema inglês. Nele, é descoberto logo no primeiro terço da trama que o estrangulador de mulheres que age em Londres é um homem elegante, boa pinta e amigo do principal suspeito, que justamente o seu oposto. Feio, mau humorado e impopular, ele na verdade é o mocinho da história e tenta durante todo o filme provar que é inocente. Mas Hitchcock não é mestre por acaso. Ele faz o espectador não se simpatizar com o protagonista logo de início. Só depois que descobrimos quem é o verdadeiro monstro, é que passamos a torcer por ele. Se A Favorita conseguir fazer o mesmo com Donatela, já posso considerar uma das melhores obras feitas para a TV nos últimos anos. Mas isso, só dá para concluir nos próximos capítulos.

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