segunda-feira, 21 de julho de 2008

O triunfo do Morcego e do Palhaço

Quando vi O Corvo, nos anos 90, tive uma profunda tristeza ao seu término pois havia assistido o melhor filme da carreira de Brandon Lee, filho do lendário Bruce, sabendo que era o seu último: Brandon morreu durante as filmagens quando foi baleado por uma bala de festim mal calibrada. A mesma sensação pude sentir ao assistir a produção mais esperada por mim neste ano: Batman - O Cavaleiro das Trevas, por causa da avassaladora performance de Heath Ledger como o Coringa.

Vai parecer chover no molhado falar que Heath Ledger está ótimo e que fez um Coringa absolutamente fantástico, que conseguiu calar a boca de muita gente (inclusive a minha), que ficou desconfiada na época que foi anunciada sua escalação. Mas é impressionante como ele surpreende a cada cena que surge, imprimindo um humor sarcástico e diabólico, além de fazer algo que nenhum outro intérprete do personagem conseguiu: ele dá muito medo! Ao contrário de Jack Nicholson (ou Cesar Romero), que fazem piadinhas enquanto tentam realizar seus planos pouco ameaçadores, o Coringa de Ledger tem um objetivo muito simples: enlouquecer tudo e a todos ao seu redor. Seus atos são bastante imprevisíveis e isso é um mérito do roteiro escrito pelo diretor Christopher Nolan e seu irmão, Johnathan, além da dedicação demonstrada por Ledger ao papel.

Mas o filme não é só do vilão. Ou melhor, de apenas um vilão. Os irmãos Nolan dedicam boa parte da trama à história de Harvey Dent, o Cavaleiro Branco, o promotor que se mostra incorruptível e tão dedicado à justiça que encanta os moradores de Gotham, em especial Rachel Dawes (vivida pela ótima Maggie Gyllenhaal, que embora não seja tão graciosa quanto Kate Holmes, é melhor atriz) e o próprio Bruce Wayne. Ele chega a pensar em aposentar a capa e viver uma vida normal, quase como o Superman e o Homem-Aranha fizeram nas sequüências de suas aventuras. Mas o Coringa surge com suas ações diabólicas para desestabilizar o correto Dent e se torna um dos principais responsáveis por sua queda e a transformação dele no terrível Duas Caras. O ator Aaron Eckhart, que já tinha mostrado um bom trabalho em Obrigado Por Fumar, revela-se mais um acerto na escalação do elenco. Ele mostra que uma pessoa, quando submetido a uma grande pressão, pode não resistir e acabar indo contra a tudo que acredita, inclusive aqueles que se ama.

O mesmo acontece com o próprio Batman. Em mais uma ótima interpretação, Christian Bale demonstra muito bem que os eventos causados por suas ações e as do Coringa afetam profundamente seu modo de ser. Com o passar da trama, ele é levado a tomar decisões que ele acredita ser as corretas, mesmo que ele acabe sofrendo as consequências, para ajudar as pessoas que precisam ser ajudadas, apesar de ele dizer em um momento de que não é um herói. Só por esse paradoxo, seu Batman é superior a todos que surgiram na tela grande até agora.

Assim, o diretor Christopher Nolan merece os parabéns por criar e conduzir uma trama tão cheia de nuances, onde há mais seriedade do que poderia parecer numa adaptação de histórias em quadrinhos para o cinema. Nolan consegue ser muito mais fiel à parte psicológica dos personagens do que à estética destes. Um exemplo óbvio é o Coringa, que aparece com maquiagem borrada e um cabelo mal pintado de verde, ao contrário da versão em que aparece com a pele branca por causa de um acidente em um tonel de substâncias químicas, como nas revistas. Mas toda sua anarquia e desejo por destruição física e mental (como mostrado na história mais famosa do Palhaço do Crime A Piada Mortal) estão presentes, tornando-o verdadeiramente fascinante e perturbador.

Além disso, não tem como não se sentir arrastado pelo turbilhão de emoções que Batman - O Cavaleiro das Trevas proporciona aos espectadores. São mais de duas horas e meia de projeção, que nem dá para sentir. Ao fim do filme, a vontade é de ver o próximo capítulo logo em seguida. Pena que, se houver uma terceira parte, não será mais possível ver Heath Ledger incendiando as telas de cinema com sua performance como o Coringa. Mas, se nada mais der errado, teremos Bale mais uma vez em breve mostrando mais vez porque ele é o verdadeiro Cavaleiro das Trevas. Long Live The Bat!

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